Introdução
Neste estudo, iremos procurar entender a questão que envolve o termo “Livre-arbítrio”.
Trata-se de um tema que trouxe grande discussão durante alguns períodos da História. O entendimento diferente acerca deste tema, ou seja, a defesa da existência de um “livre-arbítrio” ou a sua negação, tem divido pessoas até hoje.
Mas, afinal temos ou não temos livre-arbítrio? É isto mesmo que iremos verificar, não só analisando as posições teológicas acerca do assunto, mas, buscando luz da Bíblia para clarear nosso entendimento.
Antes de tudo precisamos definir o que seja esse tal “Livre-arbítrio”:
1. Livre-arbítrio
“Livre-arbítrio” tem sido definido, como a capacidade dada ao homem, por ocasião de sua criação, para escolher entre o bem e o mal, entre agradar a Deus ou desobedecê-Lo. Seria o “livre poder de eleger o bem ou o mal”.
Héber Carlos de Campos também a define como tendo sido a capacidade que o homem teve, “de escolher as coisas que combinavam com a sua natureza santa, mas que, mutavelmente, pudesse escolher aquilo que era contrário à sua natureza santa”.
Vejam que tais definições estão de acordo com o que prescreve a nossa Confissão de Fé:
O homem em seu estado de inocência tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder.
É importante dizermos que quanto à definição, não existe dificuldade. O problema todo que envolve o tema, é se o homem hoje, depois da queda, possui ou não esse tal de livre-arbítrio.
Antes mesmo de entrar propriamente na discussão, se o homem ainda dispõe dessa capacidade, precisamos dizer algo acerca de uma faculdade natural e inalterada no homem, mesmo depois da queda, chamada de “livre agência” ou “capacidade de escolha”.
2. Livre Agência ou Capacidade de Escolha
Existe no homem uma capacidade tal que lhe dá condições de fazer escolha, de acordo com o que lhe é agradável. O homem sempre e em qualquer condição faz as suas escolhas, de tal forma que ele é responsabilizado por elas. “Essa capacidade ou aptidão é um aspecto inalienável da natureza humana normal”. Ele é livre para escolher o que lhe agrada, de acordo com suas inclinações. Sobre este aspecto da existência humana a CFW diz o seguinte: Deus dotou a vontade do homem com tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o mal, nem a isso determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza. Ref. Tiago 1:14; Deut. 30:19; João 5:40; Mat. 17:12; At.7:51; Tiago 4:7.
Comentando acerca desta seção da CFW, A. A. Hodge diz o seguinte: ...que a alma humana, inclusive todos os seus instintos, idéias, juízos, emoções e tendências, têm o poder de decidir por si mesma; isto é, a alma decide em cada caso como geralmente lhe agrade.
O homem é livre para escolher, sendo que nada externamente pode forçar suas escolhas. Isto é essencial no homem, faz parte da sua criação a imagem e semelhança de Deus. “À parte dela, não pode haver qualquer responsabilidade, confiança ou planejamento. À parte dela, não pode haver educação, religião ou adoração. À parte dela, não pode haver qualquer arte, ciência ou cultura. A capacidade de escolher é uma condição sine qua non de toda a vida humana”.
A definição de Campos sobre este assunto é também esclarecedora:
Livre Agência, por outro lado, poderia ser definida como a capacidade que todos os seres racionais têm de agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a caminharem para qualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada, sendo, contudo, levados a fazer aquilo que combina com a natureza deles.
Campos ainda falando sobre este aspecto enfatizando a responsabilidade humana em suas escolhas, diz:
É importante que o ser racional que ele aja sempre movido pelo seu ego. A responsabilidade dele sempre estará diretamente ligada à voluntariedade do seu ato. Todos os atos dele devem ser auto-inclinados e auto-determinados.
Portanto, para que haja responsabilidade, não é necessário que haja o poder de escolha contrária, mas sim, que haja o poder de autodeterminação, que a ação seja nascida nas inclinações do ser racional.
Pelo que ficou demonstrado, em qualquer época o homem é livre para agir conforme sua condição, sua natureza, ou seja, ele sempre faz o que quer conforme a sua inclinação.
3. A queda do homem: O que aconteceu ao livre-arbítrio?
Como dissemos acima, na criação o homem recebeu a capacidade de fazer escolhas e possuía também a liberdade de fazer escolhas certas, ou seja podia escolher agradar a Deus, de tal forma que pudesse cair desse estado em que foi criado. O homem foi criado totalmente santo, integro, contudo podia escolher algo que fosse contrário a essa sua natureza. E foi isso o que aconteceu, ou seja, escolheu pecar. “No princípio, portanto, o homem não era um ser neutro, nem bom nem mau, mas um ser bom que era capaz de, com a ajuda de Deus, viver uma vida totalmente agradável a Deus”. Como dizia Agostinho, o homem tinha a “capacidade de não pecar” (posse non peccare).
Neste sentido, até antes de sua queda podemos dizer, o homem possuía o livre-arbítrio, contudo com a desobediência, ele perdeu tal capacidade, sendo que não mais consegue fazer escolhas certas, não consegue agradar a Deus. Suas escolhas serão sempre determinadas pelo estado em que caiu. Suas escolhas serão de acordo com a sua natureza.
É neste ponto que surgem então discussões, pois, diferente da posição Reformada Calvinista, os Arminianos irão afirmar que o homem ainda possui o livre-arbítrio. Ele pode sem a intervenção de Deus, em seu estado natural, fazer escolhas espirituais acertadas.
Para os arminianos a queda do homem, embora tenha trazido algum prejuízo não afetou totalmente o homem, sendo que, continua em seu estado natural a ter habilidades para escolher a salvação, para escolher agradar a Deus. Desta forma, a depravação não foi total.
Vejam mais detalhadamente a posição dos arminianos quanto à depravação do homem:
Embora a natureza humana tenha sido seriamente afetada pela queda, o homem não ficou reduzido a um estado de incapacidade total. Deus, graciosamente, capacita todo e qualquer pecador a arrepender-se e crer, mas o faz sem interferir na liberdade do homem. Todo pecador possui uma vontade livre (livre arbítrio), e seu destino eterno depende do modo como ele usa esse livre arbítrio. A liberdade do homem consiste em sua habilidade de escolher entre o bem e o mal, em assuntos espirituais. Sua vontade não está escravizada pela sua natureza pecaminosa. O pecador tem o poder de cooperar com o Espírito de Deus e ser regenerado ou resistir à graça de Deus e perecer. O pecador perdido precisa da assistência do Espírito, mas não precisa ser regenerado pelo Espírito antes de poder crer, pois a fé é um ato deliberado do homem e precede o novo nascimento. A fé é o dom do pecador a Deus, é a contribuição do homem para a salvação.
O ensino arminiano segue o raciocínio de Pelágio, com diferença apenas no fato de que este, dizia que a queda não afetou em nada a humanidade, de tal forma que “o homem continua nascendo na mesma condição em que Adão estava antes da queda. Esta isento não só de culpa, como também de polução.” Por isso, os arminianos são considerados semi-pelagianos, pois pensam que o homem depois da queda tenha capacidade para fazer escolhas certas.
Os reformados calvinistas, em contra partida, afirmam que a queda incapacitou totalmente o homem, afetando todas as suas faculdades. O homem após a queda perdeu tal liberdade, sendo agora escravo do pecado, morto espiritualmente.
Vejam mais detalhadamente o pensamento calvinista sobre a depravação total
Devido à queda, o homem é incapaz de, por si mesmo, crer de modo salvador no Evangelho. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas de Deus. Seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua vontade não é livre, pois está escravizada à sua natureza má; por isso ele não irá - e não poderá jamais - escolher o bem e não o mal em assuntos espirituais. Por conseguinte, é preciso mais do que simples assistência do Espírito para se trazer um pecador a Cristo. É preciso a regeneração, pela qual o Espírito vivifica o pecador e lhe dá uma nova natureza. A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a salvação, mas é ela própria parte do dom divino da salvação. É o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus.
Os calvinistas neste sentido seguem os ensinos de Agostinho, que por sua vez combateu os ensinamentos de Pelágio. Agostinho ensinou que quando os seres humanos “pecaram, embora não perdessem a sua capacidade de fazer escolhas, perderam a sua capacidade de servir a Deus sem o pecado – em outras palavras, a sua verdadeira liberdade. O homem tornou-se, então, um escravo do pecado; ele passou ao estado de ‘não ser capaz de não pecar’ (non posse non peccare).”
A CFW afirma o seguinte acerca disso:
O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Ref. Rom. 5:6 e 8:7-8; João 15:5; Rom. 3:9-10, 12, 23; Ef.2:1, 5; Col. 2:13; João 6:44, 65; I Cor. 2:14; Tito 3:3-5.
Calvino também disse o seguinte acerca desta situação do homem:
As Escrituras atestam que o homem é escravo do pecado; o que significa que seu espírito é tão estranho à justiça de Deus que não concebe, deseja, nem empreende coisa alguma que não seja má, perversa, iníqua e impura; pois o coração, completamente cheio do veneno do pecado, não pode produzir senão os frutos do pecado.
O homem, após a queda não possui mais o livre-arbítrio, não pode mais escolher algo que é contrário a sua natureza pecaminosa. Ele está morto, cego, é escravo do pecado.
Esta doutrina defendida pelos calvinistas, pelos reformados, que por sua vez é negada pelos arminianos, não se trata apenas de uma posição teológica diferente, e sim de afirmação bíblica. Nega-la é o mesmo que renunciar a Palavra de Deus neste assunto.
São inúmeros os textos que afirmam tal verdade, falando que o homem está incapacitado totalmente de atender ao convite de salvação, de atender as exigências divinas. Isto acontece por seu próprio pecado, por sua própria inclinação e desejo. À parte da graça de Deus o homem, por sua própria iniciativa não pode salvar-se, ou escolher isto.
Vejamos textos que servem de base para a doutrina calvinista:
1. O homem está morto, incapaz de qualquer bem, precisando da intervenção divina: Jr 13.23; Ef. 2.1-10; Rm 3.9-18, 23; Cl 2.13; Tt 3.3-5.
2. O homem não consegue ir até Jesus, senão com a ajuda somente de Deus: Jo 6.44, 65; Rm 9.16.
3. O homem precisa nascer de novo, contudo, isto só aconteça através da atuação do Espírito Santo, que age soberanamente: Jo 3.1-15.
4. O homem não pode compreender as coisas espirituais, senão pelo Espírito: I Co 2.14-16.
5. A Bíblia declara que o homem está cego, é escravo do pecado. Não pode fazer outra coisa senão pecar, a não ser que Deus mude seu estado: Ef. 4.18; Jo 8.31-36; Jo 9.35-41; Rm 6.15-23; 2 Tm 2.26.
6. O homem não pode apresentar um fruto diferente daquilo que ele é: Mt 7.16-18; Tg 1.16-18.
Percebam que, afirmar que o homem tem o livre-arbítrio é o mesmo que ignorar tais textos da Bíblia.
É importante enfatizar que, o homem mesmo neste estado, continua ser um agente livre, ou seja, ele exerce “a livre agência”. Isto quer dizer que continua a fazer as suas escolhas, contudo, não escolhe nada que seja contrária a sua natureza pecaminosa (Jo 5.40; Tg 1.14; Mt 17.12; At 7.51; Ef 2.3). O homem nunca é forçado a fazer algo que não deseja. Faz sempre aquilo que lhe traz prazer.
Sobre isto, diz Calvino:
Não pensemos, entretanto, que o homem peca como que impelido por uma necessidade incontrolável; pois peca com o consentimento de sua própria vontade continuamente e segundo sua inclinação. Mas, visto que, por causa da corrupção de seu coração, odeia profundamente a justiça de Deus; e, por outro lado, atrai para si toda sorte de maldade, por isso afirmamos que não tem o livre poder de eleger o bem ou o mal – que é o que chamamos livre-arbítrio.
Campos diz também o mesmo:
Originalmente, antes da queda, o homem teve tanto o livre arbítrio como a livre agência. Depois da queda o homem ficou somente com a livre agência, pois perdeu tanto o desejo quanto a capacidade de fazer o bem, isto é, o poder de agir contrariamente à sua natureza.
Assim, é o homem quem escolhe continuar no pecado, contudo, não tem capacidade, por causa do seu próprio pecado e maldade, para escolher coisa diferente a não ser que suas inclinações e vontade sejam transformadas por Deus, recebendo habilidade para escolher o que é bom e reto. Por isso o homem é sempre responsabilizado por seus atos, pois, sempre escolhe o que lhe agrada.
4. Na Redenção do Homem: O que acontece ao livre-arbítrio?
Quando Deus em sua livre graça, resolvendo salvar o homem, age em seu coração, pela ação do Espírito lhe implanta vida, o que acontece é que o homem recebe habilidade para escolher o que é reto e bom. A Bíblia descreve este ato, como o da libertação de um escravo, dando-lhe liberdade para escolher o que é agradável a Deus, contudo, muito embora liberto, pode ainda inclinar-se para o pecado. O homem passa a desejar o que é bom. Isto não significa que não deseje o pecado, pois, ainda permanece nele a imperfeição.
Sobre isto diz a CFW:
Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta da sua natural escravidão ao pecado e, somente pela sua graça, o habilita a querer e fazer com toda a liberdade o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção, ainda nele existente, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau. Ref. Col.1: 13; João 8:34, 36; Fil. 2:13; Rom. 6:18, 22; Gal.5:17; Rom. 7:15, 21-23; I João 1:8, 10.
Estaria o homem regenerado na mesma condição de Adão antes da queda, ou seja, teria ele agora novamente o livre-arbítrio? Não, pois, não voltamos a ser como era Adão. Ele era perfeitamente reto, santo, e podia escolher algo que fosse contrário ao que era a sua natureza. O homem regenerado recebe liberdade para escolher o que é bom, contudo, não tem o livre arbítrio, pois não escolhe algo contrário ao que ele é. Ou seja, quando escolhe o que é bom, faz isso de acordo com a sua nova natureza criada em Cristo e quando escolhe pecar, faz isso, conforme a sua natureza carnal. Esta é a luta que reside dentro do homem restaurado. Ele não pode dar lugar ao velho homem (Ef 4.17-24; Cl 3.1-11).
É importante ressaltar que, sendo regenerado o homem recebe habilidade, que antes não tinha, para escolher a Deus. Conforme Agostinho, o homem recebe a capacidade de não pecar (posse non peccare). Por isso, e somente assim, pode atender ao convite do Evangelho para a sua salvação. O homem na regeneração continua a exercer a sua “livre agência”.
Vejam como a CFW, fala da condição que o homem para fazer escolhas espirituais, como um ser ativo:
Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso disposto pela sua graça. Ref. João 15:16; At. 13:48; Rom. 8:28-30 e 11:7; Ef. 1:5,10; I Tess. 5:9; 11 Tess. 2:13-14; IICor.3:3,6; Tiago 1:18; I Cor. 2:12; Rom. 5:2; II Tim. 1:9-10; At. 26:18; I Cor. 2:10, 12: Ef. 1:17-18; II Cor. 4:6; Ezeq. 36:26, e 11:19; Deut. 30:6; João 3:5; Gal. 6:15; Tito 3:5; I Ped. 1:23; João 6:44-45; Sal. 90;3; João 9:3; João6:37; Mat. 11:28; Apoc. 22:17.
Esta vocação eficaz é só da livre e especial graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem; na vocação o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida e comunicada.
Ref. II Tim. 1:9; Tito 3:4-5; Rom. 9:11; I Cor. 2:14; Rom. 8:7-9; Ef. 2:5; João 6:37; Ezeq. 36:27; João5:25.
É o homem que diz sim a Deus, que diz sim ao chamado do Evangelho, depois de Ter sido habilitado, libertado do pecado. O abrir dos olhos, a nova criação, o nascer de novo, é obra da livre graça de Deus e se não for assim, ninguém poderá crer em Cristo. Se não recebermos a fé que vem do Senhor, nunca poderemos crer. Maravilhosa graça!
5. Na glorificação do Homem: Terá o livre-arbítrio?
Quando formos glorificados, por ocasião da vinda de Cristo e completação de nossa salvação, teremos de volta o livre-arbítrio? Não, na glorificação, não voltaremos a ser como Adão, estaremos à frente dele, pois, ele quando criado não gozava de uma perfeição permanente, ou seja, podia cair de tal estado. Ele podia escolher algo contrário a sua natureza, contudo, se tivesse sido obediente poderia Ter alcançado a perfeição permanente. Os crentes glorificados alcançarão o que Adão não pode alcançar. Teremos perfeita liberdade para servir a Deus. Continuaremos a ser agentes livres, pois, escolheremos o que estará de acordo com a nossa natureza perfeita. Nunca escolheremos pecar, pois, não haverá tal possibilidade, então, nunca mais teremos o livre-arbítrio.
Desta forma, como disse Agostinho, alcançaremos o estado “não posso pecar” (non posse peccare).
Diz a CFW:
É no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só. Ref. Ef. 4:13; Judas, 24; I João 3:2.
Comentando a CFW, Hodge diz:
Quanto ao estado dos homens glorificados no céu, nossa Confissão ensina que continuam, como antes, agentes livres; contudo, os restos de suas velhas tendências morais corruptas, sendo extirpadas para sempre, e as graciosas disposições implantadas na regeneração, sendo aperfeiçoadas, e o homem todo, sendo conduzido à medida da estatura do varão perfeito, à semelhança da humanidade glorifica de Cristo, permanecem para sempre perfeitamente livres e imutavelmente dispostos à perfeita santidade. Adão era santo e instável. Os homens não regenerados são impuros e estáveis; isto é, são permanentes na impureza. Os homens regenerados possuem duas tendências morais opostas, digladiando-se pelo domínio em seus corações. São lançadas entre elas, contudo a tendência graciosamente implantada gradualmente por fim prevalece perfeitamente. Os homens glorificados são santos e estáveis. São todos livres e, portanto, responsáveis.
Portanto na glorificação, seremos para sempre livres, sem também o livre-arbítrio para sempre.
Conclusão
Os reformados, os calvinistas crêem no livre-arbítrio, como tendo sido uma habilidade concedida a Adão e perdida na queda. Desde então o homem ficou desprovido de qualquer habilidade para fazer escolhas santas, agradáveis a Deus. Não lhe resta outro desejo senão o de pecar, conforme as inclinações de seu próprio coração, sendo assim, um agente livre e responsável.
Cremos que, nunca mais tal habilidade fará parte da existência humana. O fato de Deus nos libertar do pecado nos habilitando a fazer escolhas acertadas, não é o mesmo que dizer que temos o livre-arbítrio. As escolhas sempre estarão de acordo com a nossa natureza, ou naturezas.
Nem antes, nem depois, voltaremos a ser como era Adão. Na glorificação estaremos à frente dele, num estado em que o pecado não será possível.
Dizermos que existe um tal de livre-arbítrio, seria o mesmo que dizer que Deus não é soberano sobre a salvação do pecador, que Ele está sujeito ao querer do homem.
Se não fosse Deus, sua graça o que seria de nós, nunca escolheríamos a Ele.
Que o estudo acerca desse tema, possa-nos motivar a glorificar a Deus por causa da sua graça que, agindo em nós mudou-nos inclinações e vontade, fazendo-nos querer, desejar, o que não queríamos nem desejávamos.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
A Menina dos Meus Olhos
A menina dos olhos é a pupila. Segundo os oftalmologistas, esta é a parte mais sensível do corpo humano. É assim que Deus descreve a sua relação com o seu povo. “Pois assim diz o Senhor dos Exércitos: porque aquele que tocar em vós toca na menina do meu olho” (Zc. 2:8).
Na teologia isto é chamado de ‘antropofagismo’, ou seja, uma linguagem humana traduzindo sentimentos e idéias divinos. Deus não tem pernas nem braços, costas ou asas, Ele é Espírito, e não um ser limitado a uma forma. ‘A menina dos olhos’, neste caso, significa o zelo divino para com o seu povo. Não o zelo segundo os nossos conceitos, regidos por interesses e conveniências, mas o verdadeiro, o puro, sem segundas intenções.
Deus ama e protege a sua igreja, o seu povo, muitas vezes mais que uma leoa ou ursa aos seus filhotes. Ai daqueles que tocarem nos eleitos de Deus. Lembro-me do temor de Davi quando teve o rei Saul em suas mãos: “O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu Senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor” (I Sam. 24:6). Lembro-me das palavras do Senhor Jesus acerca dos tropeços: “Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo!” (Mt. 18: 6,7).
Entendo perfeitamente a tristeza do Apóstolo Paulo de ser considerado o menor dos apóstolos, e não ser digno de ser chamado apóstolo, por ter perseguido a igreja de Deus (I Cor 15:9). Não me escandalizo com o juízo radical exercido sobre Ananias e Safira (At. 5), sobre outros tantos na igreja primitiva (I Cor 11:30), e sobre muitíssimos hoje, por conta dos seus maus caminhos. De Deus não se zomba, aquilo que o homem semear, isto ceifará. As sagradas Escrituras afirmam que o nosso Deus é zeloso e vingador, que não ficará impune ninguém que escarneça de Deus e do seu povo. (Prov. 16:5; 17:5; Jr. 25 29; Na. 1:2) terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. Irmão amado receba com reverência esta mensagem; já está chegando o dia em que Deus trará à luz todas as coisas escondidas, e que vingará o sangue dos seus servos. “Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao Evangelho de Deus?” (I Pe. 4:17) Portanto, meus amados, vivamos de maneira sóbria, piedosa, justa, amando de coração aqueles que por Deus são amados, sem hipocrisia, fazendo sempre o bem, sabendo que cada irmão nosso, em qualquer parte do planeta, é a menina dos olhos de Deus.
Que a nossa motivação seja a mesma do rei Davi: “Não sejam envergonhados por minha causa os que esperam em ti, Ó Senhor dos Exércitos; nem por minha causa sofram vexame os que te buscam, ó Deus de Israel” (Sal. 69:6). Receba esta palavra como palavra de Deus pra sua vida, em nome de Jesus.
Pr. Itamar Bezerra
Na teologia isto é chamado de ‘antropofagismo’, ou seja, uma linguagem humana traduzindo sentimentos e idéias divinos. Deus não tem pernas nem braços, costas ou asas, Ele é Espírito, e não um ser limitado a uma forma. ‘A menina dos olhos’, neste caso, significa o zelo divino para com o seu povo. Não o zelo segundo os nossos conceitos, regidos por interesses e conveniências, mas o verdadeiro, o puro, sem segundas intenções.
Deus ama e protege a sua igreja, o seu povo, muitas vezes mais que uma leoa ou ursa aos seus filhotes. Ai daqueles que tocarem nos eleitos de Deus. Lembro-me do temor de Davi quando teve o rei Saul em suas mãos: “O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu Senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor” (I Sam. 24:6). Lembro-me das palavras do Senhor Jesus acerca dos tropeços: “Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo!” (Mt. 18: 6,7).
Entendo perfeitamente a tristeza do Apóstolo Paulo de ser considerado o menor dos apóstolos, e não ser digno de ser chamado apóstolo, por ter perseguido a igreja de Deus (I Cor 15:9). Não me escandalizo com o juízo radical exercido sobre Ananias e Safira (At. 5), sobre outros tantos na igreja primitiva (I Cor 11:30), e sobre muitíssimos hoje, por conta dos seus maus caminhos. De Deus não se zomba, aquilo que o homem semear, isto ceifará. As sagradas Escrituras afirmam que o nosso Deus é zeloso e vingador, que não ficará impune ninguém que escarneça de Deus e do seu povo. (Prov. 16:5; 17:5; Jr. 25 29; Na. 1:2) terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. Irmão amado receba com reverência esta mensagem; já está chegando o dia em que Deus trará à luz todas as coisas escondidas, e que vingará o sangue dos seus servos. “Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao Evangelho de Deus?” (I Pe. 4:17) Portanto, meus amados, vivamos de maneira sóbria, piedosa, justa, amando de coração aqueles que por Deus são amados, sem hipocrisia, fazendo sempre o bem, sabendo que cada irmão nosso, em qualquer parte do planeta, é a menina dos olhos de Deus.
Que a nossa motivação seja a mesma do rei Davi: “Não sejam envergonhados por minha causa os que esperam em ti, Ó Senhor dos Exércitos; nem por minha causa sofram vexame os que te buscam, ó Deus de Israel” (Sal. 69:6). Receba esta palavra como palavra de Deus pra sua vida, em nome de Jesus.
Pr. Itamar Bezerra
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Como surgiu o presbiterianismo
A nossa salvação é um processo que começou antes da fundação do mundo, quando o Pai e o Filho estabeleceram o pacto da redenção. O Filho se colocou no lugar do pecador e incumbiu-se de fazer a expiação do pecado, suportando o castigo necessário, e de satisfazer as exigências da lei em lugar de todo o seu povo.O plano de Deus inclui também uma organização para reunir e congregar o seu povo. No princípio esta organização era a família. Podemos citar como exemplo a família de Jó. O patriarca, além de chefe da família era também o seu “sarcedorte". Ele liderava os filhos na vida religiosa "... levantava-se de madrugada e oferecia holocausto segundo o número de todos eles" (Jó 1.5). Após o êxodo, a nação israelita passou a ser a instituição que reunia e congregava o povo de Deus. Israel era uma teocracia, um estado eclesiástico.Mas na nova aliança, estabelecida por Jesus Cristo, a igreja é a organização que reúne e congrega o povo de Deus. “também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). A “pedra" de que Jesus falou não era Pedro como indivíduo, nem meramente sua confissão, mas, sim, o Pedro confessante. Como representante dos apóstolos... É evidente que, histórica e doutrinariamente, os apóstolos foram o alicerce da igreja organizada no Novo Testamente.
A igreja, organizada pelos apóstolos, se ramificou em vários grupos. Um desses grupos, denominado protestantismo reformado ou presbiterianismo.
A IGREJA PRIMITIVA
Historicamente a igreja cristã nasceu no dia de Pentecoste. A princípio ela era considerada apenas uma seita do judaísmo ( At 24.14; 28.22). Mas, com o passar do tempo, adquiriu identidade própria.
Os cristãos foram violentamente perseguidos pelos judeus e pelos romanos. A perseguição, contudo, ajudava a igreja. Os crentes tornavam-se mais ousados. E os falsos cristãos não suportavam a pressão e saíam. Assim a igreja ia, ao mesmo tempo, se fortalecendo e se purificando.No século IV cessaram as perseguições. No ano 313, Constantino e Licínio, concorrentes ao trono imperial, se encontraram e assinaram o Edito de Milão, concedendo plena liberdade ao cristianismo. Em 323 Constantino finalmente derrotou Licínio, tornando-se único governante do mundo romano. Com seu tino político sentiu a necessidade de unificar o Império. Havia uma só lei, um só imperador e uma única cidadania para todos os homens livres. Era necessário houvesse também uma só religião. E o cristianismo foi feito religião oficial do Império Romano.
A partir de sua oficialização como religião oficial, a igreja cristã passou a receber um grande número de adesões. Muitas pessoas sem a verdadeira conversão entraram para a igreja. A atuação de tais pessoas e a influencia do mundo pagão levaram a igreja a adotar doutrinas e praticas que se chocam brutalmente com os ensinos bíblicos. Eis alguns exemplos: no ano 375 foi instituído o culto aos santos; no ano 431, institui-se o culto a Maria , a partir do concilio de Êfeso, cidade em que pontificava a grande Diana dos Efésios, divindade feminina pagã; em 503 surgiu a doutrina do purgatório; em 783 foi adotada a adoração de imagens e relíquias; em 1090, inventou-se o rosário; em 1229, foi proibida a leitura da Bíblia. Há muitas outras inovações que seria longo mencionar aqui.
Algumas pessoas afirmam que a igreja organizada pelos apóstolos é a Igreja Católica Romana.Quanto á isto devemos esclarecer o seguinte:
a) A igreja dos apóstolos não adota nenhum nome especifico. Ela é chamada no Novo Testamente simplesmente de igreja. Historicamente ela é denominada de Igreja primitiva.
b) O sistema de governo e a organização da Igreja Primitiva, suas doutrinas e sua liturgia, eram bem diferentes do que é praticado pela Igreja Católica Romana.
c) A verdade é que a Igreja Católica Romana surgiu das transformações ocorridas na Igreja Primitiva. Transformações que, lamentavelmente, só afastaram a igreja dos ensinos de Jesus Cristo
As heresias mencionadas, aliadas à corrupção e imoralidade do clero, levaram a igreja a perder suas principais características de igreja cristã. Mas ainda existiam pessoas sinceras, tementes a Deus, que clamavam por uma reforma.
A REFORMA PROTESTANTE
A partir do ano 1300, o mundo ocidental experimentou um sentimento crescente de nacionalismo. Os povos não queriam sujeitar-se a Roma. Aspiravam ver surgir uma igreja nacional. Esse clima favoreceu o surgimento dos Percussores da Reforma. Eram homens cultos, de vida exemplar, que tinham prazer na leitura e na exposição da Bíblia Sagrada. São chamados precursores porque antecederam aos reformados e, principalmente, porque não conseguiram superar o legalismo religioso- não descobriram a graça salvadora. Queriam fazer alguma coisa para alcançar a salvação, quando a Bíblia afirma: “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vos, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” ( Ef 2.8,9).
Os principais Precursores da Reforma foram: João Wyclif ( 1328-1384), professor na Universidade de Exford, na Inglaterra: João Huss ( 1373-1415), professor na Universidade de Praga, que foi queimado por causa de sua fé; e Girolano Savonarola ( 1452-1498), monge dominicano, que foi enforcado e queimado por ordem do papa Alexandre VI, em Florença, na Itália.
Além dos movimentos liberados pelos precursores da Reforma, ocorreram outras tentativas de reformar a igreja, mas sem êxito.
No século XVI a situação era bastante propicia a uma reforma da igreja. A Europa estava no limiar de uma nova época política e social. Gutemberg revolucionara o processo de impressão de livro; Colombo descobriria a América... Tudo isso preparava o terreno para a reforma. E Lutero foi o homem que Deus levantou para desencadear o movimento que resultou na Reforma Religiosa do Século XVI.
Martinho Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483. Sua família era pobre e ele lutou com muita dificuldade para estudar. Preparava-se para ingressar no curso de Direito, quando resolveu torna-se monge. Entrou para o mosteiro agostiniano de Erfurt, em 1505, antes de completar 22 anos de idade. Dois anos depois foi ordenado sacerdote. No ano seguinte foi para Wittenberg preparar-se para ser professor na recém-criada universidade daquela cidade Foi lá que Lutero decidiu-se ao estudo da escritura. E ao estudar a Epístola aos Romanos, descobriu que “o justo viverá pela fé” (Rm 1.17). Ele já havia feito tudo o que a igreja indicava para alcançar a paz com Deus. Mas sua situação interior só piorava. Ao descobrir a graça redentora, entregou-se a Jesus Cristo, pela fé, e encontrou a paz e a segurança da salvação.
No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou, na porta da capela de Wittenberg, as suas 95 teses. Era o início da Reforma.
Lutero tentou reformar a igreja, mas Roma não quis se reformar. Antes o perseguiu violentamente. Em 1521 ele foi excomungado. Neste mesmo ano teve que se esconder durante 10 meses no castelo de Wartburg, pero de Eisenach, para não ser morto. Depois voltou para Wittenberg, onde comandou a expansão do movimento da reforma.
O PRESBIRETIANISMO
Paralela à reforma de Lutero, surgiu na Suíça um reformador chamando Úlrico Zwínglio. Era mais novo que Lutero apenas 50 dias, mas tinha formação e idéias do reformador alemão. Contudo, não pôde ir muito longe a seu movimento de reforma, pois morreu prematuramente no campo de batalha, no dia 11 de outubro de 1531. Mesmo assim é considerado o “pai do protestantismo reformado” (presbiterianismo).
Mas o homem responsável pela sistematização doutrinária e pela expansão do protestantismo reformado foi João Calvino. Ele nasceu em Noyon, Província de Picardia, na França, no dia 10 de julho de 1509. Seu pai era advogado e se chamava Gerard Calvino. Sua mãe, Jeanne Le Franc Calvino, morreu quando ele tinha apenas 3 anos de idade. Aos 14 anos, Calvino entrou para a Universidade de Paris. Com 20 anos formou-se em Direito na Universidade de Orléans. Não se sabe com precisão o ano em que o jovem Calvino converteu-se a Jesus Cristo. Alguns historiadores julgam que foi em 1533. neste ano um amigo de Calvino, chamado Nicolas Cop, tomou posse como reitor da Universidade de Paris. E o seu discurso de posse falava e reformas, numa linguagem que refletia idéias luteranas. E o comentário geral era que o discurso tinha sido escrito por Calvino. O rei Francisco I resolveu agir contra os “luteranos”. Calvino e Nicolas Cop foram obrigados a fugir de Paris.
Em julho de 1536, Calvino passava por Genebra. A cidade havia se declarado oficialmente protestante no dia 21 de maio daquele mesmo ano. E Guilherme Farel liderava o movimento protestante na cidade. Sabendo da presença de Calvino, Farel foi ao seu encontro e o persuadiu a ficar na cidade para ajudá-lo. E Calvino fez de Genebra uma cidade modelo.
Mas Calvino foi, acima de tudo, um grande teólogo. Escreveu dezenas de livros de livros. Sua principal obra é a Instituição da Religião Cristã, conhecida como Institutas, concluída em 1559. O sistema doutrinário, elaborado por Calvino é essencialmente bíblico, e se tornou conhecido como calvinismo.
Os seguidores iniciados por Zwinglio e estruturado por Calvino se espalharam por toda a Europa. Na França eles eram chamados de huguenotes; na Inglaterra, puritanos; na Suíça e Países Baixos, reformados; na Escócia, presbiterianos.
O presbiterianismo foi levado da Escócia para a Inglaterra; de lá, para os Estados Unidos da America.
Em 1726 teve inicío um despertamente espiritual nos Estados Unidos. Este despertamente levou os presbiterianos a se interessarem por missões estrangeiras. Missionários foram enviados para vários países, inclusive para o Brasil.
No dia 12 de agosto de 1859 chegou ao nosso país, o primeiro missionário americano: Ashbel Green Simonton.
Extraído do Curso para catecumenos, Adão Carlos Nascimento, 5° edição- Junho/2003
A igreja, organizada pelos apóstolos, se ramificou em vários grupos. Um desses grupos, denominado protestantismo reformado ou presbiterianismo.
A IGREJA PRIMITIVA
Historicamente a igreja cristã nasceu no dia de Pentecoste. A princípio ela era considerada apenas uma seita do judaísmo ( At 24.14; 28.22). Mas, com o passar do tempo, adquiriu identidade própria.
Os cristãos foram violentamente perseguidos pelos judeus e pelos romanos. A perseguição, contudo, ajudava a igreja. Os crentes tornavam-se mais ousados. E os falsos cristãos não suportavam a pressão e saíam. Assim a igreja ia, ao mesmo tempo, se fortalecendo e se purificando.No século IV cessaram as perseguições. No ano 313, Constantino e Licínio, concorrentes ao trono imperial, se encontraram e assinaram o Edito de Milão, concedendo plena liberdade ao cristianismo. Em 323 Constantino finalmente derrotou Licínio, tornando-se único governante do mundo romano. Com seu tino político sentiu a necessidade de unificar o Império. Havia uma só lei, um só imperador e uma única cidadania para todos os homens livres. Era necessário houvesse também uma só religião. E o cristianismo foi feito religião oficial do Império Romano.
A partir de sua oficialização como religião oficial, a igreja cristã passou a receber um grande número de adesões. Muitas pessoas sem a verdadeira conversão entraram para a igreja. A atuação de tais pessoas e a influencia do mundo pagão levaram a igreja a adotar doutrinas e praticas que se chocam brutalmente com os ensinos bíblicos. Eis alguns exemplos: no ano 375 foi instituído o culto aos santos; no ano 431, institui-se o culto a Maria , a partir do concilio de Êfeso, cidade em que pontificava a grande Diana dos Efésios, divindade feminina pagã; em 503 surgiu a doutrina do purgatório; em 783 foi adotada a adoração de imagens e relíquias; em 1090, inventou-se o rosário; em 1229, foi proibida a leitura da Bíblia. Há muitas outras inovações que seria longo mencionar aqui.
Algumas pessoas afirmam que a igreja organizada pelos apóstolos é a Igreja Católica Romana.Quanto á isto devemos esclarecer o seguinte:
a) A igreja dos apóstolos não adota nenhum nome especifico. Ela é chamada no Novo Testamente simplesmente de igreja. Historicamente ela é denominada de Igreja primitiva.
b) O sistema de governo e a organização da Igreja Primitiva, suas doutrinas e sua liturgia, eram bem diferentes do que é praticado pela Igreja Católica Romana.
c) A verdade é que a Igreja Católica Romana surgiu das transformações ocorridas na Igreja Primitiva. Transformações que, lamentavelmente, só afastaram a igreja dos ensinos de Jesus Cristo
As heresias mencionadas, aliadas à corrupção e imoralidade do clero, levaram a igreja a perder suas principais características de igreja cristã. Mas ainda existiam pessoas sinceras, tementes a Deus, que clamavam por uma reforma.
A REFORMA PROTESTANTE
A partir do ano 1300, o mundo ocidental experimentou um sentimento crescente de nacionalismo. Os povos não queriam sujeitar-se a Roma. Aspiravam ver surgir uma igreja nacional. Esse clima favoreceu o surgimento dos Percussores da Reforma. Eram homens cultos, de vida exemplar, que tinham prazer na leitura e na exposição da Bíblia Sagrada. São chamados precursores porque antecederam aos reformados e, principalmente, porque não conseguiram superar o legalismo religioso- não descobriram a graça salvadora. Queriam fazer alguma coisa para alcançar a salvação, quando a Bíblia afirma: “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vos, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” ( Ef 2.8,9).
Os principais Precursores da Reforma foram: João Wyclif ( 1328-1384), professor na Universidade de Exford, na Inglaterra: João Huss ( 1373-1415), professor na Universidade de Praga, que foi queimado por causa de sua fé; e Girolano Savonarola ( 1452-1498), monge dominicano, que foi enforcado e queimado por ordem do papa Alexandre VI, em Florença, na Itália.
Além dos movimentos liberados pelos precursores da Reforma, ocorreram outras tentativas de reformar a igreja, mas sem êxito.
No século XVI a situação era bastante propicia a uma reforma da igreja. A Europa estava no limiar de uma nova época política e social. Gutemberg revolucionara o processo de impressão de livro; Colombo descobriria a América... Tudo isso preparava o terreno para a reforma. E Lutero foi o homem que Deus levantou para desencadear o movimento que resultou na Reforma Religiosa do Século XVI.
Martinho Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483. Sua família era pobre e ele lutou com muita dificuldade para estudar. Preparava-se para ingressar no curso de Direito, quando resolveu torna-se monge. Entrou para o mosteiro agostiniano de Erfurt, em 1505, antes de completar 22 anos de idade. Dois anos depois foi ordenado sacerdote. No ano seguinte foi para Wittenberg preparar-se para ser professor na recém-criada universidade daquela cidade Foi lá que Lutero decidiu-se ao estudo da escritura. E ao estudar a Epístola aos Romanos, descobriu que “o justo viverá pela fé” (Rm 1.17). Ele já havia feito tudo o que a igreja indicava para alcançar a paz com Deus. Mas sua situação interior só piorava. Ao descobrir a graça redentora, entregou-se a Jesus Cristo, pela fé, e encontrou a paz e a segurança da salvação.
No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou, na porta da capela de Wittenberg, as suas 95 teses. Era o início da Reforma.
Lutero tentou reformar a igreja, mas Roma não quis se reformar. Antes o perseguiu violentamente. Em 1521 ele foi excomungado. Neste mesmo ano teve que se esconder durante 10 meses no castelo de Wartburg, pero de Eisenach, para não ser morto. Depois voltou para Wittenberg, onde comandou a expansão do movimento da reforma.
O PRESBIRETIANISMO
Paralela à reforma de Lutero, surgiu na Suíça um reformador chamando Úlrico Zwínglio. Era mais novo que Lutero apenas 50 dias, mas tinha formação e idéias do reformador alemão. Contudo, não pôde ir muito longe a seu movimento de reforma, pois morreu prematuramente no campo de batalha, no dia 11 de outubro de 1531. Mesmo assim é considerado o “pai do protestantismo reformado” (presbiterianismo).
Mas o homem responsável pela sistematização doutrinária e pela expansão do protestantismo reformado foi João Calvino. Ele nasceu em Noyon, Província de Picardia, na França, no dia 10 de julho de 1509. Seu pai era advogado e se chamava Gerard Calvino. Sua mãe, Jeanne Le Franc Calvino, morreu quando ele tinha apenas 3 anos de idade. Aos 14 anos, Calvino entrou para a Universidade de Paris. Com 20 anos formou-se em Direito na Universidade de Orléans. Não se sabe com precisão o ano em que o jovem Calvino converteu-se a Jesus Cristo. Alguns historiadores julgam que foi em 1533. neste ano um amigo de Calvino, chamado Nicolas Cop, tomou posse como reitor da Universidade de Paris. E o seu discurso de posse falava e reformas, numa linguagem que refletia idéias luteranas. E o comentário geral era que o discurso tinha sido escrito por Calvino. O rei Francisco I resolveu agir contra os “luteranos”. Calvino e Nicolas Cop foram obrigados a fugir de Paris.
Em julho de 1536, Calvino passava por Genebra. A cidade havia se declarado oficialmente protestante no dia 21 de maio daquele mesmo ano. E Guilherme Farel liderava o movimento protestante na cidade. Sabendo da presença de Calvino, Farel foi ao seu encontro e o persuadiu a ficar na cidade para ajudá-lo. E Calvino fez de Genebra uma cidade modelo.
Mas Calvino foi, acima de tudo, um grande teólogo. Escreveu dezenas de livros de livros. Sua principal obra é a Instituição da Religião Cristã, conhecida como Institutas, concluída em 1559. O sistema doutrinário, elaborado por Calvino é essencialmente bíblico, e se tornou conhecido como calvinismo.
Os seguidores iniciados por Zwinglio e estruturado por Calvino se espalharam por toda a Europa. Na França eles eram chamados de huguenotes; na Inglaterra, puritanos; na Suíça e Países Baixos, reformados; na Escócia, presbiterianos.
O presbiterianismo foi levado da Escócia para a Inglaterra; de lá, para os Estados Unidos da America.
Em 1726 teve inicío um despertamente espiritual nos Estados Unidos. Este despertamente levou os presbiterianos a se interessarem por missões estrangeiras. Missionários foram enviados para vários países, inclusive para o Brasil.
No dia 12 de agosto de 1859 chegou ao nosso país, o primeiro missionário americano: Ashbel Green Simonton.
Extraído do Curso para catecumenos, Adão Carlos Nascimento, 5° edição- Junho/2003
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